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Ondas de calor: como afetam o Brasil e outros países?

Calor extremo em vários locais do planeta, frio fora de época, chuvas devastadoras e outras alterações indicam que as mudanças climáticas estão cada vez mais alarmantes

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Provavelmente, as notícias sobre a onda de calor que atingiu o Brasil e outros países do mundo já passaram pelo seu feed no Instagram. Invernos quentes e históricos por aqui e verões com calor extremo no hemisfério Norte tornaram-se notícia no último mês. Mas, afinal, o que está acontecendo com o clima mundial? Reunimos algumas informações importantes para manter você atualizado sobre o assunto.

O que é onda de calor?

Onda de calor é um período prolongado de altas temperaturas em determinada região, que geralmente excede as médias sazonais, àquelas habituais da estação vigente. Ela pode causar impactos significativos nas condições climáticas, na saúde humana, na economia e no meio ambiente

Durante uma onda de calor, as temperaturas, tanto no período diurno quanto noturno, permanecem elevadas por um longo período, muitas vezes resultando em condições climáticas extremas.

Planeta terra tomado por labaredas representando ondas de calor
Especialistas explicam que, apesar de o Brasil não ter características geográficas iguais às do hemisfério Norte, pode enfrentar ondas de calor cada vez mais fortes (Imagem: Adobe Stock)

Causas das ondas de calor

Segundo a Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos Estados Unidos (NOAA), as ondas de calor são resultado de ar aprisionado, em razão de um sistema de alta pressão atmosférica. 

A onda de calor ocorre quando uma área está sob a influência desse sistema de alta pressão atmosférica, que bloqueia a movimentação das massas de ar e impede a dissipação do calor acumulado. Isso resulta no aumento gradual das temperaturas, que podem atingir níveis anormalmente altos.

Termômetro mostrando temperaturas altas
Segundo dados do Instituto Nacional de Meteorologia, em novembro de 2020, os termômetros chegaram a 44,8ºC em Nova Maringá, centro-norte de Mato Grosso (Imagem: Adobe Stock)

Os eventos climáticos extremos estão se tornando mais frequentes e intensos em todo o mundo. Eles são consequência das mudanças climáticas causadas pelo aumento das emissões de gases de efeito estufa, que resulta no aquecimento global. 

Além disso, fenômenos climáticos, como o El Niño e a La Niña, também podem influenciar nas temperaturas globais.

Mudanças climáticas

As mudanças climáticas são alterações de longo prazo nos padrões do clima na Terra, incluindo o aumento das temperaturas globais, as variações nos regimes de chuva e outros fenômenos climáticos.

Como consequência disso, assistimos a secas intensas, incêndios severos, inundações, aumento do nível do mar, escassez de água potável, derretimento de calotas de gelo, tempestades e aniquilamento da biodiversidade.

Imagem mostra clima verde e árido - onda de calor
No sul do Brasil, os picos de calor têm acontecido durante o verão, quando a chuva é mais irregular e os dias, mais longos (Imagem: Adobe Stock)

De acordo com o professor de Geopolítica e Atualidades do Aprova Total, Víctor Daltoé, as alterações no clima colocam a relação entre a sociedade e a natureza no centro das preocupações políticas.

Assim, em diversas escalas, modificações irresponsáveis no meio ambiente se voltam para os seres humanos com respostas agressivas, que, muitas vezes, custam vidas.

Efeito estufa, desmatamento e aquecimento global

De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), desde 1800, o principal impulsionador das alterações são as atividades humanas, principalmente aquelas que envolvem a emissão de gases do efeito estufa. Ele resulta da queima de combustíveis fósseis, como carvão, petróleo e gás, além do crescimento de áreas desmatadas e de outras ações industriais e agrícolas. 

As emissões continuam aumentando e a concentração dos gases de efeito estufa está em seu nível mais alto em 2 milhões de anos. Já o desmatamento, conforme mostra a Pesquisa de Sensoriamento Remoto da Avaliação Global de Recursos Florestais, tem números diferentes no mundo e no Brasil.

Mundialmente, o desaparecimento das florestas diminuiu cerca de 30% (de 2010 a 2018). Enquanto no território brasileiro, em 2022, houve um crescimento de 22,3% de áreas desmatadas, com cerca de 21 árvores derrubadas por segundo apenas na Amazônia, aponta o MapBiomas Alerta, iniciativa do Observatório do Clima da ONU.

Diante desse cenário de variações, a Terra ficou cerca de 1,1 °C mais quente desde o final do século 19. Com isso, chegamos ao aquecimento global, que consiste no aumento da temperatura média da superfície da Terra e da atmosfera terrestre, devido à elevada concentração de gases do efeito estufa ao longo do tempo.

Esses gases, como dióxido de carbono e metano, retêm o calor do sol e causam um desequilíbrio no clima, levando também ao derretimento das calotas polares, à elevação do nível do mar, às alterações nos padrões de chuva e a outros eventos extremos.

É essencial entender, então, que as mudanças climáticas estão diretamente relacionadas ao aumento de frequência, intensidade e duração das ondas de calor em muitas partes do mundo.

Industrialização

Os primeiros registros técnicos de aumento da temperatura no mundo datam de 1880. Porém, sabemos que a Revolução Industrial e o consumo de combustíveis fósseis aconteciam bem antes disso (1760-1840), principalmente na Grã-Bretanha e na Europa continental.

Uma pesquisa publicada na revista Nature, em 2015, investigou possíveis registros de temperatura das décadas anteriores a 1880. O objetivo foi identificar quando e como os primeiros sinais de aquecimento global relacionados ao aumento das emissões de gases de efeito estufa (decorrentes de atividades humanas) começaram a aparecer.

Os pesquisadores chegaram à conclusão de que a temperatura da Terra começou a subir entre os anos 1830 e 1850. Assim, a partir de simulações climáticas, eles associaram registros de temperatura em fontes naturais (como o crescimento de corais e árvores ou presença dos núcleos de gelo) e o aumento das emissões oriundas de atividades nas primeiras décadas de industrialização na Europa.

A percepção foi de que as demandas da indústria resultaram em algumas "subidas" na concentração de gases do efeito estufa na atmosfera, apesar de uma recuperação rápida do clima naquela época. O estudo ainda demonstrou que, talvez, seja impossível reverter certos impactos negativos, como o degelo das calotas polares e o aumento do nível do mar.

No Brasil, de acordo com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), o setor representa mais de 20% do PIB e emprega 9,5 milhões de pessoas. Isso aponta que, embora a indústria se aproprie de técnicas que podem ser prejudiciais ao planeta, a atividade industrial se faz essencial para a manutenção da economia, implicando na busca por equilíbrio.

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El Niño

O El Niño é um fenômeno climático natural que consiste no aquecimento anormal das águas superficiais do Oceano Pacífico, especificamente na porção equatorial, próximo à costa oeste do continente sul-americano.

planeta terra mostrando fenômeno el nino - onda de calor
Este ano, setembro marca o início do período de maior atividade do El Niño (Imagem: Adobe Stock)

É importante destacar que o El Niño não tem um padrão de ocorrência, ou seja, pode haver anos com sua presença ou não. Vale ressaltar ainda que as causas da presença desse fenômeno climático ainda são um mistério para os meteorologistas. 

Durante o El Niño, as águas quentes do Pacífico deslocam-se para o leste, afetando os padrões climáticos em todo o mundo. Esse aquecimento anormal altera os ventos atmosféricos e a circulação oceânica, resultando em mudanças significativas nos padrões de chuva e temperatura.

A expectativa é de que, em 2023, esse fenômeno se configure como um Super El Niño, com temperaturas de até 2,5 °C acima da média em diferentes regiões do mundo. Isso deve contribuir para a formação de ondas de calor.

Temperatura alta no mar do oceano pacífico, principalmente na parte oeste da América do Sul
Temperatura alta no mar do oceano pacífico, principalmente na parte oeste da América do Sul (Imagem: Instituto Nacional de Meteorologia)

Um boletim da Organização Meteorológica Mundial (OMM) informou que há 98% de chance de que o mundo enfrente o período mais quente já registrado. Nesse caso, América Latina e Caribe estão na zona que deve sofrer os maiores impactos, além da região norte da América do Sul.

O secretário-geral da OMM, Petteri Taalas, vem alertando os governos para que se mobilizem, a fim de limitar as consequências das altas temperaturas na saúde, nos ecossistemas e nas economias.

O aumento de doenças transmitidas pela água, como a cólera, e potenciais surtos de doenças transmitidas por mosquitos, como a malária e febre do Vale do Rift, estão entre os principais riscos.

Onda de calor no Brasil

Na penúltima semana de agosto, o Brasil vivenciou uma onda de calor atípica para o mês. Segundo o Climatempo, as temperaturas altas são provenientes de uma grande massa de ar seco e quente que se espalhou por todas as regiões do país.

A região sul, conhecida pelos invernos bastante frios, encarou dias quentes com chuvas de granizo ao final da tarde, algo que é comum no verão sulista.

Além disso, muitos estados brasileiros registraram temperaturas extremamente altas, chegando aos 40ºC. Dessa forma, o Brasil tem vivido o inverno mais quente dos últimos 61 anos.

Altas temperaturas registradas em 22 de agosto de 2023
Altas temperaturas registradas em 22 de agosto de 2023 (Imagem: METEORED/Reprodução)

A atuação do El Niño favorece o aumento da temperatura e, consequentemente, o período prolongado de calor. No entanto, em razão de uma frente fria, as temperaturas tiveram uma queda acentuada no sábado (26/08).

Onda de calor no mundo

No hemisfério Norte, onde está ocorrendo o verão astronômico, a onda de calor é intensa. Há registros de temperaturas entre 40ºC e 50ºC em países como França, Alemanha, Estados Unidos e Grécia. 

Incêndios florestais atingiram o Havaí, em especial a ilha de Maui, fazendo centenas de vítimas e deixando inúmeros desaparecidos. Esse foi considerado o incêndio mais mortal registrado nos Estados Unidos no século 21. 

A Grécia também foi atingida por incêndios florestais. De acordo com Pavlos Marinakis, porta-voz do governo, o país está passando pelo ano mais difícil da história em termos climáticos.

Por que está tão quente em 2023?

A Agência Aeroespacial dos Estados Unidos (Nasa) confirmou que, levando em consideração as médias globais, julho foi o mês mais quente que se tem registro deste ano. E a agência já deixou o alerta: 2024 será ainda pior.

Os sistemas de alta pressão, responsáveis pelo aumento da temperatura, estão se intensificando pelo presença do El Niño em 2023. Além disso, o aquecimento global, responsável pelo aumento da temperatura média do planeta Terra, também tem sua influência no cenário mundial das ondas de calor.

Dias mais quentes da história

A agência de monitoramento atmosférico e oceânico dos Estados Unidos (NOAA) aponta que os 22 dos últimos 23 anos tiveram os dias mais quentes a história.

Até agora, 2016, que também teve ocorrência de um El Niño, detinha o recorde de ano com maior temperatura média global, atingindo 16,8ºC. No entanto, 2023 superou esse número, com média global de 17,08 °C.

Dia mais quente de 2023

Por enquanto, os dias entre 3 e 6 de julho de 2023 foram os mais quentes do ano e da história. Os dados são do Climate Prediction Center, órgão ligado a NOAA nos EUA, e do Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus, da União Europeia.

Segundo Zeke Hausfather, cientista climático da Berkeley Earth, que vem analisando temperaturas globais e fazendo previsões para a classificação final do ano em termos de calor, as chances de 2023 receber o recorde de ano mais quente já são maiores que 80%.

Consequências das ondas de calor

As ondas de calor podem gerar impactos em diferentes áreas, veja:

  • Saúde
    O calor extremo pode levar a problemas como insolação, exaustão por calor, desidratação e agravamento de condições médicas pré-existentes;
  • Meio ambiente
    As ondas de calor têm como consequência o derretimento de geleiras, o aumento da temperatura dos oceanos e eventos climáticos extremos, como incêndios florestais, além de impactos nos diversos ecossistemas pelo mundo;
  • Agricultura
    Temperaturas extremamente altas podem danificar as colheitas, reduzir a produtividade agrícola e causar secas;
  • Sociedade e economia
    As dificuldades causadas por temperaturas elevadas podem afetar negativamente a qualidade de vida das pessoas e ter implicações econômicas.

A adaptação às ondas de calor e a implementação de estratégias de mitigação são importantes para lidar com esses impactos. Nesse contexto, é importante explicar que a adaptação envolve adaptar sistemas naturais e sociais para lidar com impactos irreversíveis; enquanto a mitigação engloba ações que reduzem as causas fundamentais das mudanças climáticas.

* Colaborou neste artigo Alexandre Santana, analista de Biologia do Aprova Total

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Luísa Ferreira Vieira

Licenciada em Geografia pela Udesc e colaboradora no blog do Aprova Total.

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